Capitulo 2 - 1º mês


Nesta noite eu tive um sonho.
Sonhei que estava com a garota que eu tanto amo em minha cama. Me vi retirando o seu sutiã rendado e me embriagando com o seu cheiro de mulher. Apertando a sua carne macia enquanto descia distribuindo beijos por todo o seu corpo. No sonho, mordisquei o seu mamilo e ouvi um gemido ser emitido de sua boca.
Como aquilo foi sexy.
Tirei a sua roupa intima e a minha também, apesar de ter tido dificuldades com a perna. Engraçado, isso devia ser mais fácil em sonhos. No sonho eu a penetrei com delicadeza, e ouvi um gemido de dor de sua parte, mas ela me incentivou a continuar, e foi o que fiz.
No meu sonho eu a amei como nunca amei ninguém. Eu a tive em meus braços por inteiro e a fiz mulher. E quando tudo acabou ela se deitou sobre o meu peito e eu nos cobri com um lençol. A abracei e fechei os olhos desejando que tudo aquilo não fosse só um sonho.

PEETA

O som me lembra o apito de uma chaleira de chá.  Sabe aquele som irritantemente regular, fino e que parece aumentar de volume com o tempo? Então, foi com este som que despertei.
A minha cabeça dói, e o ambiente aparenta estar extremamente claro. Sinto a boca seca inicial, mas logo em seguida surge uma salivação excessiva. Aquela do tipo que só vem para te avisar que o vômito está próximo e que é melhor você procurar um local adequado para despejar tudo o que vem por aí.
—Eu não poço acreditar nisso! — Alguém grita — Mas o que deu em vocês?
Algo se quebra no chão.
Mais gritos... ou seria uma briga?
Há muito barulho. Eu não consigo nem ouvir os meus pensamentos.
— Acho que eu preciso de outra bebida.
Passos.
Alguém saiu do local.
—Vocês poderiam nos dar licença? — Uma voz fina e delicada diz bem próximo a mim.
Sinto o colchão se mover. O lençol parece deslizar pelo meu corpo e tento puxá-lo de volta, mas pego em outra coisa: Um braço. Desço mais a mão e toco em algo quente, mas aveludado. Gosto disso. Chego mais perto e encosto o meu corpo nele. É ainda mais aconchegante.
Ah... Sim, poderia ficar aqui para sempre.
– Se você não me soltar em 1 min pode se considerar um homem morto, Mellark. — diz a mesma voz aveludada.
Ainda sonolento abro os olhos. Eles demoram a se acostumar com toda a luz do ambiente, mas quando isso acontece eu posso ver nitidamente: Effie, Cinna e Portia me encarando da porta estupefatos, há uma garrafa quebrada no chão e o quarto está uma verdadeira baderna com roupa para todo lado.
Mas é quando olho para trás que sinto o meu corpo gelar por inteiro: Katniss está descabelada, com as bochechas coradas e tentado puxar mais o lençol para se cobrir.
É neste momento que eu percebo: Fizemos merda!


— Vocês são dois irresponsáveis! Como ousam? Vocês têm noção do que fizeram?
Já estamos a meia hora recebendo bronca de Effie. Haymitch ainda não deu sinal de vida, Cinna já pediu licença pra ir ao banheiro três vezes e Portia saiu pra buscar alguma coisa depois dos primeiros 10 min de sermão.
—Nós já entendemos Effie!
Katniss explode por um momento. O silencio paira no ressinto, sua feição muda, acho que percebeu o seu erro. Ela se recompõe e continua.
— Nós já sabemos de tudo isso, acredite em mim, se houvesse uma maneira de voltar a noite de ontem nós não teríamos feito nada disso.
Ela me olha em busca de confirmação. Abaixo a cabeça, um pouco pela dor e outra para que ela não perceba que não concordo com o que disse. Se houvesse uma outra oportunidade faria tudo novamente.
— Mas a questão é que bebemos um pouco...
— Muito, você quer dizer.
— Talvez um pouco mais da conta... Que seja! A questão é que não estávamos pensando direito ontem. Você nunca fez nada no calor do momento e que se arrependeu depois?
Neste momento Haymitch entra na sala, e está visivelmente bêbado. Se demora um pouco encarando Effie, passa o olho rapidamente por mim e por Katniss e segue em direção a saída.
— Vou sair — Diz.
— O trem de você saí em 2h. Vê se não esquece.
— Estarei aqui.
E ele sai sendo acompanhado pelo olhar de Effie. Sua atenção volta para nós.
— Tomem um banho frio e um café forte para curar essa ressaca de vocês. As suas caras estão péssimas. A equipe de preparação já se encontra em seus respectivos quartos.
Ela segue rumo a mesma saída por Abernathy partiu, dando as suas últimas recomendações.
— O trem de vocês sai em 2h. Não se atrasem.
Katniss se levanta e segue rumo ao seu dormitório.
— Katniss, espere um pouco.
Tento alcançá-la antes que fuja de mim e consigo a interceptar ainda no corredor.
— Não fuja de mim — Digo parando a sua frente. — Precisamos conversar.
— Não temos nada para conversar, Mellark.
— Temos sim, e você sabe muito bem disso.
Ela tem um jeito de ser muito complicado de lidar. Katniss é o tipo de garota que é sempre uma incógnita. Você nunca sabe direito o que ela está pensando e tudo isso é devido aos anos que teve que lutar pela sobrevivência de sua família após a morte de seu pai. As pessoas têm diferentes formas de lidar com a dor. Para Katniss, se fechar e esconder toda a emoção ou demonstração de fraqueza é o que lhe permite seguir em frente. E isso é uma barra.
— Sobre ontem... Eu não me lembro de muita coisa, mas do que eu lembro... Eu só queria...
— Esquece, Peeta. Foi um erro. Não vai mais se repetir.
E dizendo esta última frase ela segue, desviando de mim, até o seu quarto. E novamente, Katniss Everdeen quebrou o meu coração.



E tudo voltou ao normal. Ou quase tudo.
Já faz 4 semanas que retornamos ao distrito 12. Não moro mais na padaria, agora resido em uma bela casa na vila dos vitoriosos. Minha família não mora comigo, preferiram continuar na padaria.
Vou lá quase todos os dias, não preciso, mas gosto de me sentir útil na vida. Trabalhar e ocupar meu tempo com a pintura é o que tem me mantido são hoje em dia.
Desde aquela fatídica manhã, Katniss não tem falado comigo. A viajem de volta foi um martírio. Estávamos apenas Katniss, Haymitch e eu no trem. A primeira quase não saia do dormitório, e quando o fazia me evitava a todo custo. O segundo passou a maior parte do tempo bêbado, como sempre, e a outra nos provocava com o ocorrido na capital. Como disse, um verdadeiro tormento.
Na chegada ao distrito 12 mal nós olhamos. Tivemos que fazer uma cena na estação de trem porque tudo estava sendo televisionado para a capital. Então, depois daquela manhã, pela primeira vez eu voltei a sentir o seu toque. Ela estava linda em um vestido salmão e com os cabelos soltos. Erguemos as mãos unidas, sorrimos para a multidão e logo ela se desvencilhou para ir de encontro a sua irmã e mãe, que estava junto a aquele seu amigo, Gale.
Durante a primeira semana ainda tentei falar com ela. Fui a sua casa, ao Prego e até mesmo à cerca na entrada da floresta. Mas foi impossível fazer isso. Depois de um tempo eu simplesmente desisti.
Eu a amo, é verdade, mas não valia a pena tanto desgaste emocional por alguém que não me valorizava o mínimo.
— Acorde Haymitch!
Uma vez ao dia eu venho a casa do meu velho mentor. A final, alguém tem que se certificar de que ele está vivo e se alimentando. Encontro-o sentado com o corpo debruçado sobre a mesa.
— Haymitch?
Tento sacudi-lo, mas foi um erro. Ele tinha uma faca na mão, e ao assustá-lo veio com tudo em minha direção. Ainda bem que tenho bons reflexos e pulei para trás.
— Ai! Qual é o seu problema?
Infelizmente não foi rápido demais, e eu acabei com um corte em minha mão.
— Você é louco garoto! Podia ter te matado.
— Por que você dorme com uma faca?
— Eu diria “Força do hábito, mas na verdade são sequelas da arena. Cada um tem as suas, não é mesmo?
Não respondo, mas sei que sim. Não há a mínima possibilidade de se passar pelos jogos e sair impune.
— Trouxe pão e sopa para você.
Coloco tudo na mesa e vou a procura de uma faca para fatiar o pão. Ele me estende a faca que me cortou a minutos atrás. Por precaução viro um pouco da bebida dele sobre a faca para desinfetar. Pela sua aparência não se ela um dia chegou a ser lavada.
— E como vai a docinho?
— Não tenho visto ela ultimamente.
— Ela ainda está fugindo de você?
— Não necessariamente.
Tento fazê-lo esquecer do assunto, por isso foco em cortar o pão.
— Pare com isso garoto. A docinho já era muito estranha antes dos jogos, agora ela está ainda mais biruta. Por você não parte para outra?
Término de fatiar o pão e coloco a faca sobre a mesa. Pego dois pratos e divido a sopa pra nós dois me sentando na cadeira a sua frente.
— Você já amou alguém? — pergunto a ele.
Sua fisionomia muda drasticamente, assumindo um ar sério. Ele puxa o prato e após duas colheradas volta a falar.
— Eu já amei.
O silencio dura alguns minutos. Dou a ele todo o tempo necessário.
— Antes dos jogos eu amei muito uma pessoa e ela me amou. Tínhamos tudo preparado, queríamos uma vida juntos, mas os jogos nos tiraram isso. Nos tiraram tudo.
— Mas você venceu os jogos. Por que não está com essa pessoa hoje?
Ele baixa a cabeça. Ouço um barulho que lembra um gemido, daqueles bem sofrido. Ele passa as mãos pelos olhos e limpa a garganta antes de falar.
— Não garoto. Eu não venci os jogos, eu sobrevivi. E sobreviver nem sempre é a melhor escolha.
Um arrepio transpassa a minha espinha e o coração acelera. É como se o meu corpo todo já soube o que ele ia dizer antes mesmo de falar.
— A capital não gosta de nada que ela não possa controlar. As nossas famílias são os nossos pontos fracos é a partir dela que ele mantém o controle sobre nós. Se você não segue com o que é ordenado ele te manda um aviso.
— Que tipo de aviso?
— De todo o tipo que você puder imaginar. Entenda uma coisa, ele vai machucar e matar quem for preciso para te manter na linha, não importa quem seja. Pode ser sua mãe, seu pai, irmão.... Ou até mesmo a sua esposa gravida.
Fico sem saber o que dizer. Meu sangue gela diante da revelação dele.
— Então um conselho garoto: Não se apaixone de verdade. Você só vai torná-la um alvo fácil.
A fome foi embora.
Depois disso ele seguiu para o seu quarto. Eu arrumei a cozinha e segui para a minha solitária casa. No caminho parei em frente à casa das Everdeen e fiquei pensando em tudo o que o Haymitch falou. Talvez fosse melhor assim, ela não sente nada por mim.
Melhor esquecer tudo que passou.



Acordo assustado novamente. Katniss teve outro pesadelo.
É assim toda noite, desde que chegamos. Queria poder confortá-la, mas não acho que isso seja o certo no momento. Não vou conseguir mais dormir.
Saio do meu quarto e sigo pelo corredor do segundo andar. Há muitos quartos aqui. Ao menos mais do que eu preciso. Peguei um dos últimos quartos para montar um ateliê de pintura. É para lá que eu vou quando quero exorcizar todos os meus demônios. É para lá que estou indo agora.
A pintura me traz a calma que eu tanto preciso. Com ela eu consigo por para fora tudo que está aqui dentro, tanto da minha cabeça, quanto do meu coração.
No momento estou trabalhando em uma pintura nova. Se trata de uma imagem de Katniss com aquele vestido amarelo que ela usou na entrevista no dia da coroação.
Ela estava linda! Parecia um anjo.
Ouço um barulho de porta se fechando. Olho pela janela e a vejo saindo descalça. Me lembro da conversa com Haymitch e meu cérebro tenta me avisar para deixar para lá, que não é problema meu. Mas o meu coração traiçoeiro já enviou comandos para os meus pés que agora seguem freneticamente para o lado de fora de casa, mal dá tempo de pegar uma manta que se encontrava em sobre o sofá.
Estamos na primavera, mas as noites, por muitas vezes, trazem um vento um pouco gélido. Suportável, mas gélido. Desço as escadas a tempo de encontrá-la ainda na saída da vila.
— Katniss? — A chamo.
Ela olha para trás e ao me vê tenta apresar o passo. Mas parra bruscamente poucos passos depois. Eu me aproximo dela cautelosamente.
— Não há a necessidade de fugir de mim.
— Não estou fugindo. — Ela diz e abaixa a cabeça.
— Está sim. E você sabe disso.
Me aproximo mais até ficar de frente com ela e lhe estendo a manta.
— Não estou com frio.
— Melhor pegar a última coisa de que precisamos e de que você adoeça.
Ela sorri pra mim enquanto pega a manta e joga sobre os ombros.
— Pesadelos? — Pergunto.
— Sim.
— Quer falar sobre?
— Não.
— Certo, então.
Ficamos parados no meio da entrada da vila, a tantas horas da madrugada, nos encarando.
— Então, que tal um chocolate quente com biscoitos.
Ela parece que não vai aceitar, então já me adianto.
— É só um chocolate, katniss. Eu prometo.
Ela me encara por um tempo, depois balança a cabeça em sinal afirmativo.
Seguimos para a minha casa, e enquanto eu preparo o nosso chocolate quente ela se senta sobre o sofá. Após pronto sigo com as duas canecas fumegantes para a sala, deixo uma delas em suas mãos e me sento na poltrona do outro lado com a minha.
— Me desculpe.
Demorei um tempo pra perceber que ela estava falando comigo. Se tem algo que eu aprendi no curto tempo em que convivemos é que ela nunca pede desculpa.
Fico a encarando por um tempo tentando entender exatamente pelo porquê ela está se desculpando.
— Desculpe por tudo. Mais especificamente por aquele dia. Eu não queria agir daquele jeito com você, é que foi muito constrangedor acordar no dia seguinte e constatar o que tinha acontecido. Pior ainda foi ver todas aquelas pessoas lá, nos encarando. Eu... Eu só queria sumir da li e esquecer tudo.
Eu não digo nada. Permanecemos em silencio bebericando o chocolate quente.
— Mas até que não foi tão ruim assim. — Digo para quebrar o gelo.
Ela ri. Após um mês do ocorrido, enfim estamos tendo uma conversa descente.
— Não, não foi. — Ela diz.
Acho que vi a proeminência de um sorriso se forma em seus lábios, mas tão rápido como veio ele se foi. E em menos de um minuto eu vi a xicara que estava em suas mãos se espatifar no chão derramando todo o líquido de seu interior enquanto uma Katniss pálida corria desesperada em direção ao banheiro.
Acabei ficando estático na poltrona sem saber o que fazer, até ouvi o barulho vindo do banheiro.
— Katniss? Você está bem?
Nenhuma resposta. Fui até o banheiro vê se podia ajudá-la e a cena que encontrei foi no mínimo perturbadora.
Katniss se encontrava ajoelhada em frente ao vaso sanitário abraçando-o, como se fosse seu bote salva-vidas, enquanto colocava a alma para fora, pode se dizer assim.
Segurei os seus cabelos enquanto ela terminava. Depois ajudei a se levantar e se lavar na pia.
— Você está melhor?
— Não muito.
Ela deu um passo para sair do banheiro, mas as suas pernas falharam e ela foi de encontro ao chão. Sorte que eu estava por perto para ampará-la.
— Você não está nada bem. Vem que eu vou te levar para cama.
— Peeta, não. A última vez que você fez isso nós acabamos transando.
Sorrio, só com a mera lembrança. Melhor noite da minha vida.
— Você não está nada bem. Então se deita no sofá até melhorar um pouco.
Ela não disse mais nada e seguimos para a sala. Ela se deita no sofá enquanto eu vou a cozinha pegar vassoura e pano para limpar a bagunça que a xicara de chocolate deixou.
Quando acabo com tudo ela já se encontra dormindo profundamente. Cubro-a com a manta, me sento na poltrona e passo o resto da madrugada velando o seu sono.



— Peeta?
Acordo um pouco assustado. Já é dia.
— Peeta, preciso ir. A Prim deve estar preocupada com o meu sumiço, e ainda preciso levá-la a escola.
— Tudo bem. — Bocejo um pouco — Você está melhor?
— Um pouco mais. O estomago ainda não está tão legal, mas acho que é só o estresse.
— É, pode ser.
— Eu te levo até a porta.
Caminhamos juntos em direção a saída.
— Até mais tarde. — Eu digo na esperança de que poça a ver novamente.
Ela sorri.
— Até mais tarde, Peeta.
E eu fiquei ali parado no batente de minha casa, com um sorriso estampado no rosto, vendo-a ir até a sua.
A manhã de primeiro de maio amanheceu linda e florida como mais um dia de primavera que traz uma promessa de algo novo e bom.


Comentários

Postagens mais visitadas